Tenho vivido momentos de grande alegria, de grande emoção e simultaneamente de alguma tristeza.
Não me queixo do que recebo, nem tão pouco lamento o que dou. Quem realmente me conhece sabe que tento dar sempre o melhor de mim. Tenho isso com fonte sagrada da minha existência.
Esta semana vive eventualmente o momento mais emotivo desde que me lembro como gente no mundo do futebol. Estou em querer que este momento só se assemelha ao momento em que decidi em conjunto com os meus dizer " o futebol termina aqui para mim enquanto jogador"! Foi na altura a mais a coisa mais difícil e sensata que podia fazer perante um joelho que não se aguentava. A maior asneira foi aos 23/24 voltar a jogar durante 6 meses.
Quando comecei a treinar nunca tive em mente fazer do futebol a minha vida(tive e tenho isso presente todos os dias) e por isso dediquei-me exclusivamente à formação, muito embora existam frequentes contactos para treinar seniores... continuo em querer que não é altura para tal.
O último jogo deste ano tinha um adversário que impunha respeito. Benfica. Este jogo no meio de tanto azar que nos tem acompanhado era o menos importante o menos exigente. Mas queríamos tal como sempre, vencer. Montei a equipa possível para o efeito. Infelizmente num plantel de 17 elementos, com 5 lesionados de longa duração, e 2 com indicação expressa do departamento médico de só utilizar em necessidade extrema, foi necessário pela 8 vez em 11 jogos recorrer aos miúdos mais novos - iniciados. Montei a equipa com 2 iniciados a titular e 4 no banco.
Sem dramas. Entrámos bem no jogo! O Benfica criava desiquilibrios pela zona central e isso preocupava-me. Num ápice 2 golos, para o Benfica. 2 Cantos, num bola ao segundo poste, jogador sem marcação e golo. O segundo canto bola, na pequena área, centrais não atacam porque é a zona do iniciado guarda redes, ele não tira a bola porque os centrais estão lá e a inexperiência ajuda. Voltamos a equilibrar, falhámos golos, e mais golos e o Benfica num lance de contra ataque faz um daqueles golões fabulosos. Extremo arranca em velocidade com bola, defesa direito acompanha, lado a lado, chega à entrada da área corta nas costas do defesa e bola no ângulo mais distante. Ufa que golo!!! Voltamos a equilibrar, e finalmente intervalo. 3-0! Desistimos? ou Lutamos? Lutamos claramente se eles marcam, nós também podemos marcar.
Na cabine disse aos miúdos que o resultado era enganador. Nós podíamos aceitar e ir já de férias ou lutar. Mudei. Entram mais 2 iniciados, (saem 2 juvenis??? a equipa ficou mais nova, menos experiente, mas não havia mais soluções), Entra o avançado para marcar o central do Benfica, entra um médio, para interior. Sai um médio centro e um trinco. Dentro dos que ficam abdicamos dos extremos (um passou a segundo ponta com o objectivo de marcar o segundo central do Benfica ou o primeiro condutor e o outro passou a interior) com isto tiramos a liberdade do jogo aos centrais do Benfica que lançavam nas costas da minha defesa e impediam as minhas subidas no terreno. Os laterais do Benfica deixaram de ter quem marcar e podiam, "subir à vontade" libertando espaço para os meus interiores aparecerem. O nosso médio defensivo não dava espaço ao médio centro deles.
Começamos muito bem a segunda parte. O Benfica demorou muito tempo a perceber a nova movimentação e desorientou-se. O 3-1 chegou aos 15 minutos juntamente com uma expulsão para o nosso lado. Era necessário mudar outra vez. Jogamos sem ponta fixo e passamos a ter só um segundo ponta (Centrais do Benfica atrapalhados outra vez) logo de seguida o iniciado (grande jogador) numa jogada de entendimento aparece isolado na frente da baliza (tal qual tinhamos ensaiado na sexta) -Mister desculpe assustei-me com o guarda redes! Não há crise miúdo marcas a seguir. Logo depois, mais um lance de perigo , guarda redes fora da baliza, remate a 30 metros, vai entrar... todos a gritar golo! Bola por cima da trave... Muito perto. O Benfica mudava tudo o que podia e não podia. fez todas as substituições. Pensava o treinador deles o mesmo que eu? Claro que sim. Livre, a 3,4 metros da área. Não vale a pena olhar é golo! Prepara uma nova substituição, vamos encostar o que falta do Benfica lá atrás sem dar espaços. Temos 10 minutos para fazer o empate e dar a volta ao jogo. Sai o médio defensivo e o falso segundo ponta. Entram dois avançados. Lutamos com tudo o que havia, mas 3-2 foi o resultado. O Benfica não foi melhor, Nós é que não tínhamos jogadores. Olhava para a bancada e os que precisava estavam lá todos, de gesso, a coxear, gripados, etc...
Segunda um elemento da direcção liga-me e diz-me que de acordo com a reunião da direcção, a solicitação dos sócios, e dos pais, estava na altura de substituir o treinador! Ok, é futebol, eu passo ai para despedir-me dos miúdos e levantar as minhas coisas. Não, não mister é preferível que passe agora, há menos confusão. Não desculpe, são 11 da noite, de Mafra ai ainda é um bocado e eu faço questão de me despedir deles, do roupeiro, do presidente, do massagista, do médico e do pessoal do bar.
Como previsto passei lá e dou de caras com um pai, despeço-me dele e noto um ar surpreso. Vou andando em direcção à cabine e os pais vão me acompanhando , encontro o presidente e ele diz-me: Então Álvaro vais te embora??? E o nosso acordo? Como é que vou explicar isso ao meu filho? parvo estava eu a ouvir aquilo e a tentar perceber. Parvos estavam todos ali ao meu redor, e eu a dizer, mas sr. presidente, o Sr X ligou-me ontem a dizer que tinha sido uma decisão da sua direcção em consonância com pais e sócios...
Pois depois de muita discussão, e confusão à mistura dou por mim numa cabine, com um director a apresentar à equipa o novo treinador, o Presidente a despedir o mesmo director que me despediu a mim, os miúdos a chorarem para que eu não saia, os pais a dizerem que se eu saio os filhos também saem , e mais caricato ainda o director responsável pelos seniores a dizer-me Álvaro o convite que te fiz, há dois meses, ainda está activo se quiseres assumes já os seniores. A noite termina com um jantar com o director dos seniores, o presidente, o filho dele, o meu adjunto e eu.
Entretanto, os dias passam, jantar de convívio organizado antes desta confusão toda. Era suposto ser só equipa técnica e jogadores. Estava planeado de acordo com o nosso plano de treinos. Mas também era dia de treino. O novo treinador no campo, os pais e os miúdos a ligarem-me a dizer Mister não vem jantar connosco? Mas então não vão treinar? Como o nosso treinador é o mister, e hoje temos um jantar. Vou ao Jantar. Que rica homenagem senti. Confesso que as lágrimas caíram com intensidade, mais ainda do que tinham caído dias antes naquela fria cabine. Senti-me adorado, acarinhado. Senti-me o melhor do mundo. Com toda a humildade que tenho, não conheço a história de nenhum treinador que tenha passado por algo idêntico.
Hoje a realidade é esta:
Não claro que não. Haverá certamente outras motivações. A questão é que ninguém pensou nos miúdos.
Para o meu lado aumenta a responsabilidade. É desta forma que vejo as coisas. Por terem elevado a um nível tão alto a emotividade do momento e terem feito sentir tão especial, aumentaram a minha responsabilidade e deverei estar preparado para responder à altura quando tudo isto terminar.
Tendo dado a minha palavra ao presidente que não aceitaria nenhum convite até final da época e que estaria lá até ao fim do mandato com ele, assumi desde logo o compromisso com esta mesma equipa para a próxima época, onde estarão 15 dos 17 que compõe este plantel por serem todos de 1º ano.
No entanto não posso deixar de estranhar tudo isto. E aconteça o que acontecer de agora em diante, sei também que muito ainda me têm que explicar a mim e aos miúdos.
Por outro lado, questiono-me se mereço tudo isto, e leio os post antigos e os comentários que fizeram, a questão que me vem à cabeça, é mesmo se mereço tudo isto, ou se serei o treinador que os meus jogadores idealizam. Estou em crer que está a ser criada uma expectativa demasiado elevada relativamente às minhas capacidades e ao que pretendo do mundo do futebol. Estou em crer também que está na hora de avaliar tudo isto, e tirar dai as minhas conclusões.
A certeza que tenho, e isso é evidente, é que tenho uma relação forte com os meus jogadores, e as dinâmicas de grupo funcionam com base na exigência, responsabilidade, sinceridade e partilha. O respeito é mútuo, e a base do "nosso acordo" é simples: Eu tiro o melhor deles, corrijo e ensino, eles dão-me o melhor deles, no futebol, nos estudos, e na sociedade. Por isso são crianças adoráveis.
A todas elas o meu muito obrigado. Há sentimentos que só a sinceridade é capaz de transmitir.
Não me queixo do que recebo, nem tão pouco lamento o que dou. Quem realmente me conhece sabe que tento dar sempre o melhor de mim. Tenho isso com fonte sagrada da minha existência.
Esta semana vive eventualmente o momento mais emotivo desde que me lembro como gente no mundo do futebol. Estou em querer que este momento só se assemelha ao momento em que decidi em conjunto com os meus dizer " o futebol termina aqui para mim enquanto jogador"! Foi na altura a mais a coisa mais difícil e sensata que podia fazer perante um joelho que não se aguentava. A maior asneira foi aos 23/24 voltar a jogar durante 6 meses.
Quando comecei a treinar nunca tive em mente fazer do futebol a minha vida(tive e tenho isso presente todos os dias) e por isso dediquei-me exclusivamente à formação, muito embora existam frequentes contactos para treinar seniores... continuo em querer que não é altura para tal.
O último jogo deste ano tinha um adversário que impunha respeito. Benfica. Este jogo no meio de tanto azar que nos tem acompanhado era o menos importante o menos exigente. Mas queríamos tal como sempre, vencer. Montei a equipa possível para o efeito. Infelizmente num plantel de 17 elementos, com 5 lesionados de longa duração, e 2 com indicação expressa do departamento médico de só utilizar em necessidade extrema, foi necessário pela 8 vez em 11 jogos recorrer aos miúdos mais novos - iniciados. Montei a equipa com 2 iniciados a titular e 4 no banco.
Sem dramas. Entrámos bem no jogo! O Benfica criava desiquilibrios pela zona central e isso preocupava-me. Num ápice 2 golos, para o Benfica. 2 Cantos, num bola ao segundo poste, jogador sem marcação e golo. O segundo canto bola, na pequena área, centrais não atacam porque é a zona do iniciado guarda redes, ele não tira a bola porque os centrais estão lá e a inexperiência ajuda. Voltamos a equilibrar, falhámos golos, e mais golos e o Benfica num lance de contra ataque faz um daqueles golões fabulosos. Extremo arranca em velocidade com bola, defesa direito acompanha, lado a lado, chega à entrada da área corta nas costas do defesa e bola no ângulo mais distante. Ufa que golo!!! Voltamos a equilibrar, e finalmente intervalo. 3-0! Desistimos? ou Lutamos? Lutamos claramente se eles marcam, nós também podemos marcar.
Na cabine disse aos miúdos que o resultado era enganador. Nós podíamos aceitar e ir já de férias ou lutar. Mudei. Entram mais 2 iniciados, (saem 2 juvenis??? a equipa ficou mais nova, menos experiente, mas não havia mais soluções), Entra o avançado para marcar o central do Benfica, entra um médio, para interior. Sai um médio centro e um trinco. Dentro dos que ficam abdicamos dos extremos (um passou a segundo ponta com o objectivo de marcar o segundo central do Benfica ou o primeiro condutor e o outro passou a interior) com isto tiramos a liberdade do jogo aos centrais do Benfica que lançavam nas costas da minha defesa e impediam as minhas subidas no terreno. Os laterais do Benfica deixaram de ter quem marcar e podiam, "subir à vontade" libertando espaço para os meus interiores aparecerem. O nosso médio defensivo não dava espaço ao médio centro deles.
Começamos muito bem a segunda parte. O Benfica demorou muito tempo a perceber a nova movimentação e desorientou-se. O 3-1 chegou aos 15 minutos juntamente com uma expulsão para o nosso lado. Era necessário mudar outra vez. Jogamos sem ponta fixo e passamos a ter só um segundo ponta (Centrais do Benfica atrapalhados outra vez) logo de seguida o iniciado (grande jogador) numa jogada de entendimento aparece isolado na frente da baliza (tal qual tinhamos ensaiado na sexta) -Mister desculpe assustei-me com o guarda redes! Não há crise miúdo marcas a seguir. Logo depois, mais um lance de perigo , guarda redes fora da baliza, remate a 30 metros, vai entrar... todos a gritar golo! Bola por cima da trave... Muito perto. O Benfica mudava tudo o que podia e não podia. fez todas as substituições. Pensava o treinador deles o mesmo que eu? Claro que sim. Livre, a 3,4 metros da área. Não vale a pena olhar é golo! Prepara uma nova substituição, vamos encostar o que falta do Benfica lá atrás sem dar espaços. Temos 10 minutos para fazer o empate e dar a volta ao jogo. Sai o médio defensivo e o falso segundo ponta. Entram dois avançados. Lutamos com tudo o que havia, mas 3-2 foi o resultado. O Benfica não foi melhor, Nós é que não tínhamos jogadores. Olhava para a bancada e os que precisava estavam lá todos, de gesso, a coxear, gripados, etc...
Segunda um elemento da direcção liga-me e diz-me que de acordo com a reunião da direcção, a solicitação dos sócios, e dos pais, estava na altura de substituir o treinador! Ok, é futebol, eu passo ai para despedir-me dos miúdos e levantar as minhas coisas. Não, não mister é preferível que passe agora, há menos confusão. Não desculpe, são 11 da noite, de Mafra ai ainda é um bocado e eu faço questão de me despedir deles, do roupeiro, do presidente, do massagista, do médico e do pessoal do bar.
Como previsto passei lá e dou de caras com um pai, despeço-me dele e noto um ar surpreso. Vou andando em direcção à cabine e os pais vão me acompanhando , encontro o presidente e ele diz-me: Então Álvaro vais te embora??? E o nosso acordo? Como é que vou explicar isso ao meu filho? parvo estava eu a ouvir aquilo e a tentar perceber. Parvos estavam todos ali ao meu redor, e eu a dizer, mas sr. presidente, o Sr X ligou-me ontem a dizer que tinha sido uma decisão da sua direcção em consonância com pais e sócios...
Pois depois de muita discussão, e confusão à mistura dou por mim numa cabine, com um director a apresentar à equipa o novo treinador, o Presidente a despedir o mesmo director que me despediu a mim, os miúdos a chorarem para que eu não saia, os pais a dizerem que se eu saio os filhos também saem , e mais caricato ainda o director responsável pelos seniores a dizer-me Álvaro o convite que te fiz, há dois meses, ainda está activo se quiseres assumes já os seniores. A noite termina com um jantar com o director dos seniores, o presidente, o filho dele, o meu adjunto e eu.
Entretanto, os dias passam, jantar de convívio organizado antes desta confusão toda. Era suposto ser só equipa técnica e jogadores. Estava planeado de acordo com o nosso plano de treinos. Mas também era dia de treino. O novo treinador no campo, os pais e os miúdos a ligarem-me a dizer Mister não vem jantar connosco? Mas então não vão treinar? Como o nosso treinador é o mister, e hoje temos um jantar. Vou ao Jantar. Que rica homenagem senti. Confesso que as lágrimas caíram com intensidade, mais ainda do que tinham caído dias antes naquela fria cabine. Senti-me adorado, acarinhado. Senti-me o melhor do mundo. Com toda a humildade que tenho, não conheço a história de nenhum treinador que tenha passado por algo idêntico.
Hoje a realidade é esta:
- A equipa tem 1 novo treinador e não sou eu
- Recusei (mais uma vez) o convite para os seniores
- os pais fizeram um abaixo assinado para entregar à direcção para que eu volte
- O presidente tem um dilema que se chama "novo treinador"
- O presidente pede-me para não me comprometer com mais nenhum clube e ficar com ele até ao fim do mandato (faltam 3 anos)
- O novo treinador, tem uma posição ingrata com a equipa toda contra ele, sem que ele tenha feito nada para o efeito
- Os miúdos estão insatisfeitos com a mudança
Não claro que não. Haverá certamente outras motivações. A questão é que ninguém pensou nos miúdos.
Para o meu lado aumenta a responsabilidade. É desta forma que vejo as coisas. Por terem elevado a um nível tão alto a emotividade do momento e terem feito sentir tão especial, aumentaram a minha responsabilidade e deverei estar preparado para responder à altura quando tudo isto terminar.
Tendo dado a minha palavra ao presidente que não aceitaria nenhum convite até final da época e que estaria lá até ao fim do mandato com ele, assumi desde logo o compromisso com esta mesma equipa para a próxima época, onde estarão 15 dos 17 que compõe este plantel por serem todos de 1º ano.
No entanto não posso deixar de estranhar tudo isto. E aconteça o que acontecer de agora em diante, sei também que muito ainda me têm que explicar a mim e aos miúdos.
Por outro lado, questiono-me se mereço tudo isto, e leio os post antigos e os comentários que fizeram, a questão que me vem à cabeça, é mesmo se mereço tudo isto, ou se serei o treinador que os meus jogadores idealizam. Estou em crer que está a ser criada uma expectativa demasiado elevada relativamente às minhas capacidades e ao que pretendo do mundo do futebol. Estou em crer também que está na hora de avaliar tudo isto, e tirar dai as minhas conclusões.
A certeza que tenho, e isso é evidente, é que tenho uma relação forte com os meus jogadores, e as dinâmicas de grupo funcionam com base na exigência, responsabilidade, sinceridade e partilha. O respeito é mútuo, e a base do "nosso acordo" é simples: Eu tiro o melhor deles, corrijo e ensino, eles dão-me o melhor deles, no futebol, nos estudos, e na sociedade. Por isso são crianças adoráveis.
A todas elas o meu muito obrigado. Há sentimentos que só a sinceridade é capaz de transmitir.